Foi publicado recentemente, na revista Fertility and Sterility, um artigo considerado um guia de diretrizes e boas práticas, baseadas em evidências, sexuais e de estilo de vida, relacionadas à otimização da procriação. O documento fornece recomendações, baseadas no consenso de opiniões de especialistas, para casais ou indivíduos, sobre como otimizar as chances de gravidez, quando não há nenhum histórico de infertilidade.
Fertilidade e Idade
A fertilidade varia entre populações e tende a declinar com a idade, em ambos os sexos, porém os efeitos da idade na fertilidade são evidenciados especialmente nas mulheres, que depois dos 35 anos têm suas chances de engravidar reduzidas significativamente. De acordo com o estudo, as mulheres têm sua fertilidade relativa reduzida pela metade no final dos 30 anos, quando comparada ao início dos 20 anos.
A infertilidade geralmente é definida como o fracasso em obter uma gestação de sucesso depois de 12 meses ou mais de relação sexual desprotegida. Para mulheres acima de 35 anos, ou que tenham um histórico médico de infertilidade, pode ser realizado um diagnóstico mais cedo, após 6 meses de tentativas falhas.
Frequência de relações
Informações que surgiram na última década podem ajudar, pelo menos na teoria, a definir a frequência ótima de relação sexual. Ao passo que intervalos de abstinência maiores que 5 dias podem afetar negativamente a contagem de espermatozoides, intervalos de dois estão associados e densidades normais. Existe uma ampla falsa percepção de que ejaculações frequentes diminuem a fertilidade masculina, porém um estudo retrospectivo observou que em homens com qualidade de sêmen considerada normal, a concentração e mobilidade dos espermatozoides se mantiveram normais mesmo com ejaculações diárias. Em homens que apresentam oligozoospermia, a concentração e mobilidade dos espermatozoides podem ser até melhoradas com ejaculações diárias.
Apesar de que as evidencias mostram que relações diárias podem conferir uma pequena vantagem, é preciso tomar cuidado com stress desnecessário. Em um estudo realizado com 221 casais , presumidamente férteis, tentando engravidar, a maior taxa de fecundação (37% por ciclo) estava associada com relações sexuais diárias. Já relações em dias alternados apresentaram uma taxa de fecundação de 33% por ciclo e a chance de sucesso diminuiu em 15% por ciclo quando as relações eram apenas uma vez por semana. O stress associado com a tentativa de engravidar pode reduzir a estima sexual, e consequentemente a frequência de relações.
Os casais devem estar cientes de que a eficiência reprodutiva amenta com a frequência das relações sexuais, porém a ótima frequência de relações sexuais deve ser definida de acordo com suas preferencias em determinado contexto.
Janela de fertilidade
A Janela da fertilidade é definida como o intervalo de 6 dias, finalizado no dia da ovulação. Na teoria, a viabilidade tanto do óvulo quanto do espermatozoide deve máxima durante esse período. Para a relação sexual ter mais chance de gerar uma gravidez, ela deve ocorrer no intervalo de 3 dias que é finalizado no dia da ovulação. Para propósitos clínicos, o intervalo de fertilidade máxima pode ser estimado pela análise do intervalo menstrual, kits indicadores de ovulação ou contagem de muco cervical.
Apesar de que geralmente a idade não afeta o tamanho e a natureza da janela de fertilidade. A chance de sucesso diminui com a idade. Estimar precisamente a ovulação é muito difícil com qualquer método disponível. Por isso a chance de gravidez pode ser otimizada aumentando a frequência de relações logo depois da finalização da menstruação até a ovulação.
Práticas durante o coito
Existem algumas práticas que se tornaram rituais para casais que estão tentando engravidar, como o pensamento de que as mulheres devem permanecer paradas por um tempo depois da relação para facilitar a movimentação dos espermatozoides e evitar que o vazamento de sêmen pela vagina, tal ritual não tem nenhum embasamento científico.
Não existe nenhum evidencia de que a posição do coito afete a fecundabilidade. Espermatozoides são encontrados no canal cervical segundos depois da ejaculação, independentemente da posição. Embora o orgasmo feminino possa impulsionar o transporte de espermatozoides, não há nenhuma relação entre orgasmo e fertilidade.
Alguns lubrificantes vaginais podem reduzir a fertilidade. Conforme demonstrado em estudos realizados in vitro, certos lubrificantes podem inibir a mobilidade e velocidade dos espermatozoides. O ideal é que se utilize, quando necessário, lubrificantes de óleo mineral, óleo de canola ou com base de hidroxietilcelulose.
Dieta e Estilo de Vida
Mulheres muito magras ou obesas apresentam taxas de fertilidade reduzidas. Enquanto um estilo de vida saudável ajuda a melhorar a fertilidade para mulheres com disfunção ovulatória, existem poucas evidencias de que variações de dieta como dietas vegetarianas, dietas com pouca gordura, dietas enriquecidas com vitaminas, antioxidantes ou medicações de ervas melhoram a fertilidade. Grandes quantidades de mercúrio no sangue causada por consumo excessivo de frutos do mar podem estar associadas ao aumento da infertilidade.
Álcool
O efeito do álcool na fertilidade feminina ainda não é muito bem estabelecido, porém o consumo excessivo deve ser evitado quando se está tentando engravidar.
Cafeína
Um alto nível de consumo de cafeína (mais de 5 copos por dia) pode estar associado à diminuição da fertilidade. Durante a gestação, o consumo de cafeína (mais de 2 a 3 copos por dia) pode aumentar as chances de aborto. O consumo moderado de cafeína (1 a 2 copos por dia) antes ou durante a gestação não tem nenhum efeito adverso aparente na fertilidade ou resultado da gestação.
Fonte: American Society for Reproductive Medicine, Birmingham, Alabama, 2017 “Optimizing natural fertility: a comittee opinion” Fertility and Sterility, Volume 107, Issue 1, Pages 52–58.