O Papel do Microbioma Endometrial no Sucesso da Fertilização In Vitro (FIV)
Por que algumas FIVs dão certo e outras não?
A Fertilização In Vitro (FIV) é uma técnica revolucionária que ajuda milhares de casais a realizarem o sonho de ter filhos. No entanto, mesmo com embriões saudáveis e úteros aparentemente normais, muitas mulheres ainda enfrentam falhas repetidas no tratamento.
Você já se perguntou por quê?
A ciência começa a apontar uma nova e surpreendente resposta: o microbioma do endométrio — ou seja, o conjunto de microrganismos que vivem no revestimento do útero.
Isso mesmo! Assim como temos um microbioma no intestino ou na pele, também existe um no útero, e ele pode influenciar diretamente o sucesso da implantação do embrião.
Neste artigo, vamos explicar de forma clara o que é o microbioma endometrial, como ele afeta a FIV e o que já é possível fazer para investigá-lo e tratá-lo.
O que é o microbioma endometrial?
O endométrio é a camada interna do útero, onde o embrião precisa se fixar para iniciar a gravidez. Durante muito tempo, acreditava-se que essa região era completamente estéril. Hoje, sabemos que isso não é verdade.
O microbioma endometrial é composto por bactérias “do bem” (como os Lactobacillus) e, às vezes, por bactérias “do mal” (como Gardnerella, Escherichia coli ou Klebsiella). O equilíbrio entre essas bactérias pode influenciar a receptividade do útero.
Quando o microbioma do biometrio está equilibrado:
- O útero fica com menos inflamação;
- O sistema imunológico funciona de forma adequada;
- A chance de o embrião implantar com sucesso aumenta.
Quando o microbioma está desequilibrado:
- Ocorre inflamação silenciosa;
- O corpo pode rejeitar o embrião;
- A taxa de sucesso da FIV diminui.
O que dizem os estudos sobre microbioma do biometrio na FIV?
Estudos recentes mostraram que mulheres com uma alta concentração de Lactobacillus (acima de 90%) no útero apresentam taxas de implantação e gravidez significativamente maiores do que aquelas com microbiomas desbalanceados.
Um estudo japonês de 2021, por exemplo, avaliou 342 pacientes com falhas repetidas de FIV e identificou que cerca de 30% delas tinham um microbioma alterado. Após o tratamento com antibióticos e probióticos, muitas conseguiram engravidar.
Como é feito o exame do microbioma endometrial?
O exame é simples e não invasivo. Geralmente envolve:
- Coleta de secreção do endométrio, feita com uma pequena cânula (semelhante a uma coleta de Papanicolau);
- Análise genética por PCR (uma técnica que identifica o DNA das bactérias presentes);
Em alguns casos, culturas tradicionais também podem ser usadas para detectar infecções ocultas.
O exame pode ser feito no ciclo anterior ao da FIV, permitindo tempo para ajustes se algo estiver alterado.
E se o microbioma estiver desequilibrado?
Se for detectada a presença de bactérias prejudiciais, o médico pode recomendar:
- Antibióticos específicos, por via oral ou vaginal;
- Probióticos vaginais ou orais, especialmente os que contêm Lactobacillus;
Em alguns casos, repetir o exame para confirmar a melhora antes de iniciar a FIV.
O tratamento é simples, de baixo custo e pode aumentar significativamente as chances de sucesso.
Quem deve investigar o microbioma endometrial?
Este exame é especialmente indicado para:
- Mulheres com falhas repetidas de implantação na FIV
- Mulheres com histórico de endometrite ou infecções uterinas
- Pacientes com abortos de repetição sem causa definida
- Casos em que tudo parece estar “normal”, mas a gravidez não acontece
A medicina do futuro é personalizada. A descoberta do microbioma endometrial faz parte de um movimento cada vez mais forte na medicina: personalizar o tratamento para cada paciente.
Em vez de seguir o mesmo protocolo para todas as mulheres, os especialistas agora buscam entender o ambiente interno do útero, e adaptam o tratamento de acordo com as necessidades do corpo de cada paciente.
Essa abordagem já está sendo usada em clínicas de reprodução de ponta em países como Japão, Estados Unidos e alguns centros no Brasil.
Personalizar o tratamento para cada paciente: o caminho mais eficaz
Um dos maiores avanços da medicina nos últimos anos é a chamada medicina personalizada, também conhecida como medicina de precisão.
Em vez de seguir o mesmo protocolo para todos, os médicos agora podem adaptar exames, tratamentos e medicamentos com base nas características únicas de cada paciente.
E quando falamos de reprodução assistida, isso é ainda mais importante. Afinal, cada organismo reage de forma diferente aos hormônios, cada embrião tem sua própria dinâmica de desenvolvimento, e, como vimos, até as bactérias presentes no útero variam de mulher para mulher.
Por que a personalização importa na FIV?
Muitas mulheres que buscam a FIV têm uma boa reserva ovariana, produzem embriões saudáveis e seguem todos os passos corretamente — mas ainda assim, o tratamento não dá certo.
É nesse momento que olhar além do básico faz a diferença e personalizar o tratamento significa considerar fatores como:
- A presença de inflamações uterinas silenciosas;
- O tipo de microbioma presente no endométrio;
- O momento ideal para a transferência embrionária, com base no receptivo endometrial;
- Respostas hormonais únicas em cada fase do ciclo;
- Histórico clínico e emocional da paciente.
Como a análise do microbioma entra nesse cenário?
O exame do microbioma endometrial é uma das ferramentas mais recentes para tornar o tratamento mais preciso. Ele ajuda a entender o ambiente uterino por dentro, permitindo:
- Identificar desequilíbrios que não aparecem em exames comuns
- Prescrever tratamentos específicos com antibióticos ou probióticos
- Ajustar o momento da transferência com mais segurança
Imagine uma mulher que já passou por duas FIVs sem sucesso. Com o exame do microbioma, descobre-se que ela tem um alto nível de bactérias patogênicas e quase nenhum Lactobacillus. Após o tratamento adequado, ela faz uma nova tentativa, e desta vez, o embrião implanta com sucesso.
Esse tipo de abordagem só é possível com tratamentos individualizados, que enxergam além do protocolo padrão.
Embora não haja posição oficial do CFM, o assunto tem ganhado atenção crescente no meio médico e científico, especialmente em contexto de infertilidade feminina e reprodução assistida
Um novo olhar sobre a fertilidade
Personalizar não é complicar é cuidar melhor. Ao olhar para o corpo de cada mulher como um universo único, a medicina reprodutiva pode:
- Aumentar as chances de gravidez
- Evitar tentativas frustradas
- Reduzir o desgaste emocional e financeiro
- Trazer mais segurança e acolhimento para a paciente
A reprodução assistida do futuro já está acontecendo, e ela começa com escuta, ciência e sensibilidade.
Seu corpo, seu plano, você não é um número na estatística, seu útero tem suas próprias características, sua microbiota, sua história. E é por isso que seu tratamento também deve ser único.
Se você está tentando engravidar com a ajuda da FIV e ainda não teve sucesso, nós podemos ajudar, contacte-nos para uma consulta sem compromisso, estamos à sua espera.