Testes em laboratório estão conseguindo comprovar que as taxas de fertilização humana realmente aumentam na época da primavera e que os nascimentos de bebês acontecem com mais frequência no outono. A hipótese ainda está em fase de estudos, mas acredita-se que seus resultados se devem ao fato de que a intensidade da luminosidade diária pode alterar áreas no cérebro humano associadas a mudanças na mediação das atividades endócrinas e reprodutivas.
Uma reportagem do portal Folha Online explica como a pesquisa foi conduzida e os resultados comprovados em outros mamíferos, como bois e macacos, e também pela resposta ovariana obtida em processos de fertilização de mulheres em laboratório.
Taxa de fertilização sobe na primavera; dias mais luminosos estimulam reprodução
A primavera é a estação do ano mais propícia para a fertilização humana. Pelo menos para aquela que acontece no laboratório.
Nascimentos são mais comuns nos meses de outono
É o que sugere o primeiro estudo brasileiro sobre o impacto da sazonalidade na reprodução assistida, apresentado no congresso mundial de fertilidade, na Alemanha.
O assunto é controverso e ainda não há um consenso sobre os reais efeitos desse fator ambiental nas taxas de fertilidade humana em outros mamíferos, como bois e macacos, a influência é mais conhecida e documentada.
A hipótese é que a fertilidade seja estimulada pela intensidade da luminosidade diária. Dias mais luminosos estariam associados a mudanças no cérebro responsáveis por mediar atividades endócrinas e reprodutivas.
No estudo brasileiro, foram avaliados ciclos de 1.932 mulheres que passaram pela fertilização in vitro em uma clínica de São Paulo, entre 2005 e 2009. Os ciclos foram agrupados de acordo com a estação do ano: 435 no inverno, 444 na primavera, 469 no verão e 584 no outono. Variáveis como idade, causa de infertilidade e qualidade do sêmen foram controladas.
Na primavera, a taxa de fertilização dos óvulos foi a mais alta (73,5%). No outono, no verão e no inverno, os percentuais foram de 69%, 68,7% e 67,9% respectivamente, segundo o estudo.
A resposta ovariana (número de óvulos produzido pela mulher após tomar as drogas hormonais) também foi melhor na primavera. Já a taxa de gravidez foi maior no verão (35,5% contra os 32,6% registrados na primavera).
MELATONINA
Segundo Edson Borges Júnior, um dos autores do trabalho e doutor em ginecologia pela Unesp (Universidade Estadual Paulista), a gravidez depende de outros fatores que não apenas os ambientais, o que dificulta analisar a sazonalidade.
Já a fertilização dos óvulos teria grande influência ambiental, na sua avaliação. A explicação é que a luminosidade da primavera aumenta a atividade da melatonina (hormônio que regula o sono) que, por sua vez, afeta áreas do hipotálamo.
Isso levaria a uma maior secreção dos hormônios reprodutivos, como o FSH (hormônio estimulante folicular), o LH (hormônio luteinizante), que agem no ovário, o que melhora a resposta ao tratamento de fertilização.
O urologista Jorge Hallak, médico-assistente do Hospital das Clínicas da USP e um dos maiores pesquisadores brasileiros sobre sêmen, diz que os gametas masculinos também têm qualidade superior na primavera.
Além da influência da melatonina, diz ele, isso se deve também à vitamina D, que é estimulada pela exposição ao sol. “É na mudança do inverno para a primavera que isso é mais percebido.”
O próximo passo, explica Borges Júnior, será estudar diferentes regiões brasileiras e avaliar se a latitude influi nas taxas de fertilização. “Isso poderá ajudar na elaboração de novos protocolos de tratamento, levando em consideração a influência de efeitos sazonais no sistema endócrino-reprodutivo.”
Confira a reportagem completa e seus infográficos no site da Folha Online.